Moda

Tudo começou quando Eva olhou para a água e viu seu reflexo. Ela viu seu corpo, seu rosto. A partir daí deixar o corpo e a aparência belos se tornou lei máxima para a sociedade. Estar na moda. Estar adequado à ocasião.

A coisa piorou alguns mils anos depois, onde chegamos nesse cenário: a princesa Carlinha era magra, usava roupas do mais alto garbo e tinha cabelos loiros. Já Evaneide era meio gorda, usava trapos – pois era pobre – e tinha cabelos parecidos com bombril.

 

Cenário da bagaça.

Evaneide não ligava para a aparência até que Clotilde, sua melhor amiga, saiu de seu barraco com uma revista de moda na mão, chamada “Be a Princess today, bitch!“, na sua primeira edição.

– EVANEIDE, QUERIDA, VOCÊ NÃO SABE A ÚLTIMA!!!
– Que foi, vadia?
– Sabe essa roupa que você tá usando? Então, isso tá super ULTRAPASSADO! Olha o que a Claudinha tá usando pra viajar pro Reino Unido! – e então esfregando a revista de moda na cara de Evaneide, ela surta.
– Tá, mas que diabos você quer que eu faça?
– Ora!, vista as mesmas roupas que Claudinha!
– Mas qual o intuito disso?
– Parecer uma “princesa”!
– Mas isso sequer cabe em mim! Olhe minha banhas, sua vaca.
– Basta emagrecer, puta de buteco!
– Mesmo emagrecendo, essas roupas não parecem nada confortáveis!
– E daí? O que importa é parecer chique, elegante! Sabe a Valéria, aquela vadia? Então, olha como ela é toda maltrapilha!
– Beleza, truta. Você quer dizer que eu tenho que vestir isso pra parecer chique, mesmo não me sentindo confortável?
– Basicamente isso, Neidinha...
– Só que tem outro problema… Meu pai não tem dinheiro pra comprar essas coisas. Olha esse brilho dessa roupa, só o que faz isso deve ser mais do que meu pai ganha em um mês de trabalho árduo!
– Neide, Neide, Evaneidezinha… Basta começar a trabalhar pra comprar as tais vestimentas!
– Mas eu pretendia fazer algo mais com o dinheiro que eu ganhasse trabalhando…
– Cala boca, estrupício. A gente tem que ficar na moda!
– Beleza então, mano do gueto. Eu vou dar um jeito de emagrecer, trabalhar, e então comprar as roupas e tentar me sentir confortável, como a princesa finge ficar.
– É isso memo, muleque doido! É assim que as coisas vão funcionar!

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E então chegamos a essa merda atual. Usamos coisas não para nós, e sim para os outros.

Não conheço NENHUMA mulher que se sente confortável usando salto alto. Qual o objetivo disso? Você pode estar se sentindo bem ao ver seu pé com todo aquele “glamour”, mas eaí? Você sequer consegue andar duas horas sem que o seu pé EXPLODA. Já ouviu falar dos tamancos holandeses? Bem, pra você ter uma ideia, ele era feito de MADEIRA. Talvez até ele seja mais confortável que um salto.

Sente o drama dos tamancos holandeses.

Mesma coisa com terno, no caso em homens. Geralmente, usar terno reflete em participar de ocasiões especiais, onde você precisar “seguir uma linha de elegância”. Eu, particularmente não gosto de usar terno nem nada do tipo. Pode ser elegante, mas é uma desgraça usar sapato, e usando o terno, você tem quatro dificuldades para poder “dar um mijão”. Sério: camisa, calça, cinta, cueca. Nunca confie em NADA que possa te evitar de “dar um mijão”.

Além de tudo isso, o que falar sobre aquelas pessoas malditas que ganham um salário mínimo, e quando o fazem, vão direto para o shopping mais perto gastar tudo o que ganhou, e mais, já criar contas para o próximo mês via cartão de crédito?

Preciso falar das pessoas que se tornam anorexas e doentes por culpa da “moda”? Li em uma notícia um dia algo sobre pessoas se tornarem depressivas e infelizes com o seu próprio corpo graças ao Photoshop de revistas e das mentiras dos vídeos de mulheres semi-nuas vendendo algo. “Por que pessoa X é linda, e eu não?” “Por que maluco Y tem um corpo mais belo do que eu?” “Ah, meu Deus! Essa roupa não serve em mim, bora vomitar pra servir!”.

O importante é você se sentir bem em estar usando aquilo, não só pela aparência, mas também pelo conforto.

O ser humano é a doença que cria a sua própria doença. Me expliquem nos comentários porque tudo isso acontece, por que diabos existe essa mania de querermos parecer com alguém? Se for explicar, explique com algo que faça sentido. Não venha dizer “porque o ser humano é ruim!”. Obrigado!

PS: Acho Crocs o “sapato” mais ridículo dessa década passada (foi criado em 2002 e bombou mais pros dois últimos anos). É aquele tipo de coisa que daqui vinte anos você vai falar que não devia ter o usado por ser extremamente feio, mas ele estava na moda. Não gostou, xingue-me.

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